Análise DC e AC de circuitos RC e RL série

Atendendo à sugestão do meu querido aluno Mauro, vou fazer uma breve análise do comportamento dos circuitos RC e RL alimentados em corrente contínua e alternada.

Circuito RC série em corrente contínua

O capacitor, quando totalmente descarregado, ao ser ligado a uma fonte DC, em t=0 segundos, torna-se instantaneamente um curto-circuito. Com o passar do tempo, devido ao acúmulo de cargas em suas placas, sua reatância capacitiva vai aumentando exponencialmente até que, depois de um certo período, ela se torna um circuito aberto. Este período é chamado de tempo de carga do capacitor e pode ser dado por 5.t onde t (tal) é a constante de tempo do circuito, expressa por t=R.C.

Vamos analisar os gráficos abaixo (para visualizá-los melhor, clique sobre a imagem):

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No gráfico da esquerda, a linha azul representa a tensão da fonte enquanto a linha vermelha representa a forma de onda da corrente do circuito e da queda de tensão no resistor.

No gráfico da direita podemos observar a representação da tensão da fonte em azul e a da queda de tensão no capacitor em verde.

Todas essas variáveis (E, VR, VC e I) estão em função do tempo.

Podemos observar nos gráficos que, no instante em que alimentamos o circuito, praticamente toda a tensão da fonte está sobre o resistor, a corrente no circuito é máxima e o capacitor é um curto (não existe queda de tensão sobre ele). Com o passar do tempo, observa-se que a tensão sobre o resistor, assim como, a corrente do circuito (primeira parte do gráfico vermelho à esquerda) decaem exponencialmente enquanto a queda de tensão no capacitor (primeira parte do gráfico verde à direita) aumenta exponencialmente até que a sua reatância se torne um circuito aberto e impeça a passagem de corrente no circuito.

Não é difícil de entender isso. Uma vez que a reatância capacitiva aumenta exponencialmente com o passar do tempo, a queda de tensão nela também aumenta. E como todo circuito série pode ser encarado como um divisor de tensão, se a tensão no capacitor aumenta, a tensão no resistor deve diminuir proporcionalmente.

Uma análise semelhante pode ser feita para a situação onde a fonte de alimentação é retirada do circuito e o capacitor é colocado diretamente em série com o resistor. No instante em que isso acontece, a única fonte fornecedora de tensão e corrente no circuito é o capacitor. Sendo assim, a corrente do circuito e a queda de tensão do resistor (segunda parte do gráfico vermelho à esquerda) invertem os seus sentidos e diminuem exponencialmente enquanto o capacitor (segunda parte do gráfico verde à direita) é descarregado, também de maneira exponencial, até que se esgote a sua carga.

Tanto o tempo de carga como o de descarga é dado por 5.t.

Circuito RC série em corrente alternada

Quando fazemos análises em corrente alternada, o interessante é não pensarmos em carga e descarga do capacitor. Na verdade devemos pensar que o capacitor causará um adiantamento no sinal da corrente do circuito com relação ao sinal da fonte de alimentação. Em outras palavras, se olharmos esses sinais num osciloscópio, veremos que o sinal da corrente passa pelo zero antes do sinal da tensão.

À diferença entre as fases da tensão e da corrente é dado o nome de j (fi), que acaba expressando também a fase da impedância total do circuito.

O interessante é que esse j depende da freqüência do sinal da alimentação. Vamos tentar entender o porquê disso.

A reatância capacitiva é expressa por Xc = (2.p.f.C)-1. Observando essa expressão percebemos que Xc é inversamente proporcional à freqüência, ou seja, quanto maior f, menor será o Xc. Isso faz com que, ao aumentarmos a freqüência, o circuito se torne menos capacitivo. Se o circuito é menos capacitivo a defasagem entre corrente e tensão também será menor. Se por outro lado diminuirmos f, o circuito se tornará mais capacitivo e a defasagem será maior.

Que fique claro que quando digo que o circuito é mais ou menos capacitivo, estou me referindo ao caráter capacitivo e/ou resistivo da impedância total do circuito e que o valor dessa impedância depende totalmente dos valores de R e de Xc.

Se analisarmos agora o comportamento da amplitude da corrente em função da freqüência perceberemos que ela tende a aumentar com o aumento da freqüência. Isso pode ser entendido se analisarmos o seguinte: o módulo da impedância total do circuito é dado por Zeq² = R²+Xc². Se com o aumento da freqüência Xc diminui, Zeq também diminuirá. Segundo a lei de ohm (U=R.I), que é valida para ondas senoidais, um Zeq menor permitirá, para uma tensão constante, a circulação de uma corrente de amplitude maior.

Circuito RL série em corrente contínua

Para o circuito RL, podemos fazer uma análise semelhante a feita com o circuito RC.

O indutor, quando totalmente desenergizado, ao ser ligado a uma fonte DC, em t=0 segundos, torna-se instantaneamente um circuito aberto, devido às correntes auto-induzidas em suas espiras (Lei de Lenz). Com o passar do tempo, sua reatância indutiva vai diminuindo exponencialmente até que, depois de um certo período, ela se torna um curto-circuito. Este período é chamado de tempo de energização do indutor e pode ser dado por 5.t onde t (tal) é a constante de tempo do circuito, expressa por t=L/R.

Vamos analisar os gráficos abaixo (para melhor vizualizá-lo, clique sobre a imagem):

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No gráfico da esquerda, a linha azul representa a tensão da fonte enquanto a linha vermelha representa a forma de onda da corrente do circuito e da queda de tensão no resistor.

No gráfico da direita podemos observar a representação da tensão da fonte em azul e a da queda de tensão no indutor em verde.

Assim como no caso anterior, todas as nossas variáveis estão representadas em função do tempo.

Podemos observar nos gráficos que, no instante em que alimentamos o circuito, praticamente toda a tensão da fonte está sobre o indutor, uma vez que ele se apresenta como uma chave aberta. Com o passar do tempo, observa-se que a tensão sobre o resistor, assim como, a corrente do circuito (primeira parte do gráfico vermelho à esquerda) aumentam exponencialmente enquanto a queda de tensão no indutor (primeira parte do gráfico verde à direita) decai exponencialmente até que a sua reatância se torne um curto-circuito e faça com que a corrente seja limitada exclusivamente pelo resistor.

Assim como no circuito RC, podemos encarar o circuito RL série como um divisor de tensão. Desta forma temos que a diminuição da tensão no indutor é proporcional ao aumento da tensão no resistor.

Se agora analisarmos a retirada da fonte de alimentação do circuito, a partir do instante da retirada, o indutor passa a ser a única fonte de tensão e corrente do circuito. Assim, devido novamente às correntes auto-induzidas nas espiras do indutor (Lei de Lenz), o sentido de sua queda de tensão se inverte (segunda parte do gráfico verde à direita) e decai exponencialmente até que ele seja totalmente desenergizado. Essa diminuição exponencial na tensão do indutor acaba provocando também uma diminuição exponencial da corrente do circuito e, conseqüentemente, da queda de tensão no resistor (segunda parte do gráfico vermelho à esquerda).

Assim como no caso do capacitor, tanto o tempo de energização quanto o tempo de desenergização do indutor é dado por 5.t.

Circuito RL série em corrente alternada

Eu disse no inicio desse tutorial que quando fazemos análises em corrente alternada, o interessante é não pensarmos em carga e descarga do capacitor. Esse conceito vai se repetir para o indutor. Em corrente alternada não vamos pensar em sua energização e tão pouco na sua desenergização. Na verdade vamos pensar que ao contrário do capacitor, o indutor causará um atraso no sinal da corrente do circuito com relação ao sinal da fonte de alimentação. Em outras palavras, se olharmos esses sinais num osciloscópio, veremos que o sinal da tensão passa pelo zero antes do sinal da corrente.

Para o circuito RL, a defasagem entre corrente e tensão continua sendo dependente da freqüência e permanece sendo representada por j.

Vamos analisar essa dependência da freqüência.

A reatância indutiva é expressa por XL = 2.p.f.L. Observando essa expressão percebemos que XL é diretamente proporcional à freqüência, ou seja, quanto maior f, maior será o XL. Isso faz com que ao aumentarmos a freqüência o circuito se torne mais indutivo. Quanto mais indutivo for o circuito, maior será o j. Se por outro lado diminuirmos f, o circuito se tornará menos indutivo e conseqüentemente a defasagem será menor.

Com relação à amplitude da corrente, no circuito RL, ela tende a diminuir com o aumento da freqüência. O entendimento disso pode ser feito de maneira semelhante a analise que fizemos para o capacitor: o módulo da impedância total do circuito é dado por Zeq² = R²+XL². Se com o aumento da freqüência XL aumenta, Zeq também aumentará. Então um Zeq maior permitirá, para uma tensão constante, a circulação de uma corrente de amplitude menor.

Espero que minhas explicações não tenham sido muito confusas e que acabe ajudando vocês a compreenderem um pouquinho de como funcionam os capacitores e os indutores.

  1. parabens por essa breve analise de comportamento do circuito RL, RC alimentado com correntes continuas e alternadas .

      • camilasoares
      • 13 de abril de 2009

      Muito obrigada Jordane.
      Fico muito feliz em ter podido ajudar.

    • Roberto Ferreira DM
    • 5 de junho de 2009

    Parabens pela iniciativa Camila, foi de grande ajuda sua breve, porém rica, análise do comportamento dos circiutos.
    grande abraço

      • camilasoares
      • 6 de junho de 2009

      Oi Roberto.
      Muito obrigada!!!
      Fique a vontade para deixar sujestões para meus próximos posts… 😉
      Abração.

    • danilo Missias
    • 8 de junho de 2009

    Preciso saber como se comporta a tensão e a corrente nos circuitos RC-série AC.

      • camilasoares
      • 11 de junho de 2009

      Oi Danilo.
      O que está escrito no post não foi o suficiente?
      Quais seriam as suas dúvidas?
      Abraço.

    • rosineide
    • 18 de setembro de 2009

    muito obrigado pela explicação camila foi a resposta correta que encontrei aqui obg mesmo.

      • camilasoares
      • 20 de setembro de 2009

      Olá Rosineide.
      Imagine querida!!! Obrigada você por utilizar as informações do Engenheirando.
      Espero poder ajudar mais vezes.
      Abraço.

    • Márcio Mello
    • 27 de setembro de 2009

    Boa tarde Camila!
    Minha hp50g da mensagem de erro qdo tento fazer uma integral indefinida no modo eqw, poderia me ajudar? já resetei e não consegui.
    Grato
    Márcio Mello

    • Valdir Monteiro Fillo
    • 4 de outubro de 2009

    Ola Camila, venho agradecer pela sua ajuda.
    Sou academico de engenharia mecanica, e pela segunda vez visito esta pagina, a primeira foi para entender o circuito RC e agora o RL, ambos para meu relatorio sobre os experimentos relacionados.

    Agradecimentos,

      • camilasoares
      • 8 de novembro de 2009

      Olá Valdir.
      Fico contente em saber q ajudei.
      Abraço.

    • Marcos
    • 13 de outubro de 2009

    Camila, tenho uma dúvida. Entendo que um capacitor ligado diretamente (sem resistor) a uma fonte CA, o mesmo se comporta como um curto-circuito devido a mudança de polaridade da tensão, como posso então tê-lo ligado em paralelo com motores para correção de fator de potência? Por favor, corrija a minha afirmação se eu estiver errado e esclareça a minha dúvida.

    Muito obrigado! Parabéns pelos seus trabalhos acadêmicos.

  2. No seu texto sobre Circuito RC série em corrente contínua você coloca a seguinte afirmação:
    “…Não é difícil de entender isso. Uma vez que a reatância capacitiva aumenta exponencialmente com o passar do tempo, a queda de tensão nela também aumenta….”

    Como isso é possível se a formula que deduz a reatância capacitiva tem como elemento no seu denominador a freqüência? se consideramos uma freqüência tendendo a zero teríamos uma situação teórica de resistência infinita e realmente faria sentido usar o termo reatância capacitiva. Mas no caso de CC não existe freqüência nenhuma, faz sentido usar o conceito de reatância já que não existe freqüência.?
    Estou certo no meu pensamento?

    Muito obrigado,
    Carlos A.L.M.Guimarães (Estudando de Engenharia Elétrica)

    • Luiz
    • 4 de novembro de 2010

    Olá, cara Camila! Parabens pela iniciativa do site.
    Li seu trabalho sobre o comportamento de circuitos RC e RL. Muito bem feito!
    Gostari de propor que vc fizesse um estudo do comportamento de circuitos RLC.
    O que vc acha?!

    Abraços, e mais uma vez parabéns

  3. como entender o grafico de tensao ???

  4. valor eficaz da tensao seminoidal

    • Eunesio
    • 20 de abril de 2011

    como se comporta o condensador na C.C e na A.C

    • Artur
    • 10 de agosto de 2011

    Olá ;

    Agradeço esta análise a circuito RL e RC, deu para relembrara o conceito funcionamento porque amanhã terei de aplicar um circuito RC.

    • angelo
    • 2 de novembro de 2011

    Prezada Camila,

    Gostaria de tirar uma duvida simples, qual a diferença entre as fontes de alimentação dc e ac ?
    em um equipamento que consome 2amperes de corrente eu colocar uma de 5 amperes posso prejudica algum componente sei que o equipamento vai pedir corrente necessária para seu funcionamento ideal.

    Angelo Santos

    • Jorge Henrique
    • 21 de novembro de 2011

    Boa tarde!

    Eu sei que no indutor a corrente atrasa em relação a tensão e no capacitor esse fenomeno é inverso, entretanto porque a queda de tensão é maior no resistor do que no indutor no circuito RL em série em tensão e corrente alternada.

  5. Muito bom!

    Li também as informações no seu perfil e identifiquei-me muito consigo.
    Eu sou licenciada em Engenharia Electrotécnica e de Computadores e tenho paixão por ensinar (embora não goste do giz 🙂 causa-me problemas na pele).
    Também eu tenho um blogue (http://euexplicolhe.blogspot.com/) em que partilho conhecimentos. Para além disto tenho também uma página no Facebook dedicada a esta partilha. Vou partilhar lá o seu blogue.

    Felicidades!

    São

    • Ronaldo moreira
    • 27 de março de 2012

    Caro colega!! pelo amorde Deus!! me ajude nesta questão que já estou ficando doido ok?! é seguinte:
    Num circuito RL, em série, dminuindo-se o valor ômico do ressistor, o(a).

    A= ÂNGULO DE FASE AUMENTA
    B= ÂNGULO DE FASE AUMENTA
    C= REATÂNCIA INDUTIVA DIMINUIRÁ
    D= REATÂNCIA INDUTIVA AUMENTARA

    Qual seria a resposta por gentileza?

      • Marcelo
      • 8 de julho de 2016

      angulo de fase aumenta. neste caso o Zeq= R+jwL
      será mais indutivo e por isso apresentará um ângulo maior, ou mais atrasado que o anterior.

  6. como é obtida essa fórmula?
    XL = 2.p.f.L.

    • mozer
    • 18 de julho de 2012

    como calcular a defasagem sem ter o valor da resistencia

    • Peter Hammill
    • 16 de setembro de 2012

    Boa tarde….
    na sua frase acima:

    “Na verdade devemos pensar que o capacitor causará um adiantamento no sinal da corrente do circuito com relação ao sinal da fonte de alimentação. Em outras palavras, se olharmos esses sinais num osciloscópio, veremos que o sinal da corrente passa pelo zero antes do sinal da tensão.”

    Gostaria de alertar que num osciloscópio NÃO É POSSÍVEL visualizarmos A CORRENTE, apenas as tensões!!!!

    Creio que o texto deveria ser revisado!!! algo assim:

    “Na verdade devemos pensar que o capacitor causará um adiantamento no sinal da corrente do circuito com relação ao sinal da fonte de alimentação. Em outras palavras, se olharmos esses sinais num osciloscópio, veremos que o sinal da TENSÃO no capacitor passa pelo zero DEPOIS do sinal da tensão NA FONTE.”

    Abraços!!!!

    Peter Hammill – SP

    • pedro
    • 13 de agosto de 2013

    voce é muito boa. parabéns!
    não são nada de confusas as suas explicações. rs

    • Evelyn
    • 19 de setembro de 2013

    Olá, como está? Parabéns pela iniciativa, mas gostaria de fazer um ‘apelo’: Teria como fornecer a bibliografia consultada? 🙂

      • camilasoares
      • 8 de março de 2014

      Boa noite Evelyn! Eu fiz este post de cabeça. Não consultei nenhum material. Mas qualquer livro de circuitos elétricos mostrará de alguma forma esta dedução. 😉

    • francisco
    • 14 de novembro de 2013

    porque a defasagem de sinal em rc não atinge o ângulo de 180°

    • Jaitan Martini
    • 21 de novembro de 2013

    Great!

  7. Olá… achei muito bom seu post, foi muito esclarecedor… Gostaria de saber como reproduzir seu teste, principalmente o teste do DC>RL.

    Se t=L/R como faço para que o tempo aumente? Minha intenção é utilizar somente um multímetro… é possível fazer?

    Muito obrigado…

    • Pedro Kassab
    • 9 de outubro de 2014

    Valeu pela ajuda, ajudou mto. Ps. Nooosssaaa vc é gata heim!!!

    • juliano
    • 3 de dezembro de 2014

    Vc é ótima, que Deus te ilumine sempre

    • nelson venondjo
    • 24 de abril de 2015

    gostei imesso do contiudo foi aproveitoso

    • Helena Martin
    • 18 de setembro de 2015

    Muito bem explicado, Obrigada!

    • Leandro Silva
    • 1 de novembro de 2015

    Excelente!! A melhor explicacao que ja vi…Parabens pelo trabalho!

    • Eloane
    • 16 de abril de 2017

    Manooo, obrigada por salvar minha vida!

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